O credit crunch, ou contração do crédito, faz referência a um momento em que as empresas enfrentam dificuldades na captação de recursos. O termo é especialmente utilizado no contexto corporativo, já que as companhias frequentemente recorrem a essas soluções para manter ou ampliar suas atividades.
Quando esse processo acontece, a tendência é que o crédito fique mais escasso, resultando em maior complexidade na liberação de empréstimos e encarecendo muito o preço das linhas ofertadas. Isso ocorre porque as instituições passam a disponibilizar menos crédito ou oferecem valores menores aos clientes, enquanto os investidores exigem maiores retornos devido ao aumento do risco, ou ainda optam por investir em ativos com menor risco.
Vale destacar que o movimento costuma ocorrer com o mercado de modo geral, e não apenas com uma instituição bancária. A restrição de crédito tende a acontecer de maneira súbita, como se as torneiras de dinheiro que compõem o crédito disponível no mercado se fechassem rapidamente em função de eventos econômicos globais e locais que afetam a percepção da situação macroeconômica.
O Cenário de credit crunch no Brasil
Em 2023, a perspectiva do credit crunch está relacionada a três principais fatores: o aumento das taxas de juros tanto no Brasil quanto no mundo, a desorganização da base produtiva mundial devido ao legado deixado pela pandemia da Covid-19, além do impacto causado pela guerra entre Rússia e Ucrânia.
Quando o panorama global passa por problemas econômicos, a tendência é que os mercados financeiros se retraiam. Isso ocorre porque há uma percepção de risco elevada, fazendo com que os agentes e investidores busquem alternativas mais seguras para investir seus recursos. As instituições financeiras também intensificam e endurecem as análises econômicas e financeiras das empresas, na tentativa de antecipar os possíveis riscos de inadimplência.
Dados do Federal Reserve apontam que o índice de volume total de empréstimos caiu quase 20% na última semana de março de 2023. Além disso, cerca de 50% das instituições financeiras entrevistadas afirmaram ter reduzido a oferta de crédito. Essa pesquisa foi realizada com mais de 70 organizações do setor e esses números apontam para uma tendência de consolidação de credit crunch.
No Brasil, além dos fatores mencionados, as preocupações em relação ao risco fiscal do país e o alto número de recuperações judiciais têm impactado o mercado desde o segundo semestre de 2022. Também há evidências de fraudes em pedidos de recuperação judicial, o que tem pressionado a aprovação de crédito. Em alguns casos, decisões judiciais suspenderam recuperações judiciais após reanálise e peritagem do processo que confirmaram as fraudes.
Os impactos e desafios da restrição de crédito
O credit crunch traz desafios significativos para as empresas, pois dificulta a obtenção de crédito para capital de giro, projetos de expansão e inovações. Isso compromete o fluxo de caixa, o refinanciamento e a rolagem de dívidas, prejudicando a capacidade de pagamento dos compromissos existentes. Nesse cenário, é crucial que as empresas priorizem o gerenciamento de caixa, revisem os custos operacionais e abandonem linhas de produtos ou mercados que não agregam mais valor à operação.
Os bancos, FIDCs e investidores também desempenham um papel importante nesse contexto. Eles devem aprimorar o processo de seleção de investimentos e fortalecer os controles de risco. É fundamental validar e analisar cuidadosamente os documentos comprobatórios de crédito e as vendas das empresas solicitantes, uma vez que têm surgido emissões fraudulentas de títulos. Desse modo, a aprovação de crédito deve sempre privilegiar empresas com boa reputação e que sejam merecedoras de crédito, em vez de ser orientada apenas pela pressão do elevado caixa dos financiadores das operações de crédito.
*Claudio Bokel, CEO do Grupo Intrabank.
